Reflexões sobre 2020

Vejo datas comemorativas como uma grande oportunidade para revisitar e aprender sobre os eventos históricos às quais estão associadas. No caso do ano novo, acho que é uma oportunidade para revisitar o que aconteceu no ano que se encerra.

Muitas coisa boas aconteceram para mim em 2020. Foi o ano em que minha jornada academica me levou a mais um lugar que costumava ver só em filmes. Pude viajar com alguns amigos, e até mesmo “casar” amigos mais próximos! Desenvolvi muitas habilidades (cozinha que o diga), tive muitas experiências pessoais boas, sinto que evoluí bastante. E depois de um total de 13 anos navegando por universidades, enfim completei meu doutorado, com sucesso e com uma boa oferta pro futuro.

Seja pelo ponto de vista matemático expresso com a difícil linguagem das incertezas chamada probabilidade/estatística, seja pela consciência das armadilhas do “O que você vê é tudo que há”, ou tantos outros motivos, vale lembrar-se que poucas amostras não são suficientes para caracterizar o todo. Ainda mais se elas são enviesadas.

Vale também para 2020. Do lado pessoal, os caminhos para chegar nesses sucessos, e tudo mais que ocorrou do outro lado da moeda, foram mais intensos. Trouxeram com eles muitos exercícios sobre o sentimento de impotência. Passar meses sem um abraço ou até mesmo aperto de mão não é uma experiência agradável, e o stress/peso associados a escrever uma tese de doutorado e defender o mesmo num período muito curto foram possivelmente os mais difíceis que já enfrentei. Mas tudo isso não se compara ao que vi outros passarem, e são coisas que ainda estavam de certa maneira sob o meu controle.

O sentimento é muito pior quando as coisas não estão. Quando os dias começam com estatísticas de pessoas adoecendo, e notícias de vidas humanas terminando muito antes das pessoas atingirem todo seu potencial. Coisas que não eram novas, mas que foram amplificadas e trazidas para o campo de visão de todos.

Ou quando os maiores medos associados à distancia começam a se tornar realidade. Familiares, amigos queridos em diferentes partes do mundo estão enfrentando o luto pela passagem de entes queridos, e tuas opções são apenas oferecer teus ouvidos, algumas palavras escritas/faladas, mas não aquele abraço que eles realmente precisam.

Um lado positivo desse período foi a oportunidade de ler mais, como um refúgio, um oásis nos momentos turbulentos. Dentre muitos conceitos interessantes que aprendi, um especial foi a verbalização de um conceito que acredito há tempos, mas nunca soube descrever. Amathia, em grego o oposto de sophia (sabedoria)i . Um conceito tão sutilmente complexo, que não possui traduções exatas. Com ele, a ideia de que a maioria das pessoas não faz coisas erradas por serem más/vilãs, mas pela falta de sabedoria. E na maioria dos casos, trata-se de uma falta de oportunidade, exposição, motivação para desenvolver essa habilidade. Quanto mais aprendo sobre humanos para também ensinar melhor as máquinas, o reconhecimento e admiração pelo nosso potencial aumenta, e reforça essa minha forma de pensar.

Porém, as coisas ficam mais complicadas quando você vê prevalecer uma minoria com o pior tipo de amathia: o caso de se recusar a aprender. Quando previsões sombrias mas um tanto até óbvias (WYSIATI… ) se tornam realidade na terra onde você nasceu, com consequências ainda piores do que vc poderia imaginar. Você tenta ser um suporte para amigos que estão fazendo a coisa certa em um momento difícil, e aí os vê caindo numa das armadilhas mais perigosamente humanas: buscar na maioria o conforto para fazer coisas erradas.

Existem ditados/frases de que conhecimento/inteligencia é um karma, no sentido de que não saber das coisas evita sofrer por conta delas. Por mais que momentos assim sejam tentadores para pensar dessa maneira, eu discordo profundamente. Após refletir e reconhecer que, acima de tudo, tive muito mais sorte que a maioria nesse período, penso que 2020 me proporcionou uma oportunidade para exercitar e reforçar crenças que me guiam, e que venho aprendendo a entender melhor. Não digo isso para que pessoas sintam que deveriam pensar dessa maneira, é só uma reflexão pessoal. Recomendo o exercício de refletir, no entanto.

Quanto mais aprendo sobre mim mesmo, sobre humanos psicologicamente e biologicamente, e quanto mais tenho a oportunidade de experenciar a beleza da natureza nesse planeta, mais aprecio minha vida. Na verdade, aprecio vidas. Uma gratidão por viver e viver como um ser racional surge do entendimento da complexidade e, baixa probabilidade, de tais coisas acontecerem. Isso me motiva a tentar atingir meu potencial, e a ajudar outros a atingirem os deles. A usar minhas capacidades não só para o que é melhor para mim, mas para todos ao meu redor: não só familiares, amigos, mas toda a natureza/universo que me deu essa oportunidade, e da qual sou uma parte pequena, mas ativa.

Seguem então mais uma vez os meus desejos a todos para hoje, para 2021 e sempre:

  • que tenhamos a sabedoria para identificar o que esta ao nosso alcance, e sermos ativos para fazer nosso melhor no que está ao nosso alcance
  • que o universo traga a todos muitos sucessos, e que tenhamos sabedoria, força e coragem para sermos resilientes quando a sorte não está ao nosso lado
  • que tenhamos coragem para fazer a coisa certa, mesmo quando outros não a fazem
  • que em todas as situações, possamos aprender o que se pode aprender
  • que encontremos todos nossos caminhos para a felicidade, e que esse caminho seja partilhado por todos e tudo que nos rodeia